sábado, 7 de fevereiro de 2015

O descasamento entre oferta e demanda no Brasil

O modelo econômico posto em marcha pelo PT, desde sua ascensão ao poder em 2003, apresenta um traço característico evidente: as políticas foram direcionadas para o fortalecimento da demanda, em detrimento da oferta. Uma das principais foi a regra de reajuste do salário mínimo, que garantiu aumento real ao poder de compra da população.

Convém lembrar que esse paradigma econômico só conseguiu ser sustentável (gerando crescimento e inflação sob controle) até meados de 2011 porque todas as condições abaixo contribuíram para esse fim. São elas:

a) Manutenção da condução da política econômica adotada pelo governo FHC, catapultando os investimentos de residentes e não residentes.

b) Boom das commodities, que proporcionou um crescimento significativo através do setor externo (ver texto "Brasil: um País de Commodities").

c) Como conseqüência de b), houve valorização da taxa de câmbio real (real relativamente mais forte em comparação com o dólar), aumentando fortemente o poder de compra da moeda até 2011 e tornando o consumo de importados mais barato.

d) Existência de capacidade ociosa na economia, sobretudo de mão de obra.

e) Grande margem de manobra da política econômica: por exemplo, medidas expansionistas pelo lado monetário (queda da taxa de juros) e fiscal (redução de impostos e aumento dos gastos) foram usadas em 2009 para contrabalançar os efeitos da crise, sem que isso provocasse desajustes do ponto de vista macroeconômico.

f) Forte crescimento econômico mundial.

O governo insistiu na continuidade do modelo após 2011 e os vetores acima se esgotaram. Resultado: economia estagnada e alta inflação (estagflação). No gráfico abaixo, vemos a acentuação do descasamento entre oferta (produção industrial) e demanda (vendas do comércio) após a crise financeira internacional de 2008-09.

Produção industrial e Vendas do Comércio Ampliado do Brasil (ajustadas sazonalmente)
Índice de base fixa: jan/03 = 100


Esse descolamento foi possível graças a um forte aumento das importações, conforme o gráfico abaixo. Entre 2003 e 2014, o volume de importações (que leva em consideração somente a quantidade, e não o preço) cresceu 157,0%. 

Volume de importações do Brasil (Média móvel em 12 meses)
Índice de base fixa: jan/03 = 100


Sustentar o modelo via aumento das importações não é mais possível, dado o elevado déficit das Transações Correntes (ver texto "Qual o motivo do rombo das contas externas?"). A solução para esse problema, portanto, passa pela adoção de medidas que privilegiem o lado da oferta, diminuindo assim o chamado "Custo Brasil".

Fontes: Produção Industrial e Vendas do Comércio (IBGE) - SIDRA (séries de número 3653 e 3417).

Volume de Importação: FUNCEX. Série acessada via IPEADATA.

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