domingo, 22 de fevereiro de 2015

Taxa de Câmbio: Fundamentos Externos x Fundamentos Internos

O objetivo desse texto é compreender de que forma as mudanças da política monetária dos Estados Unidos afetam a taxa de câmbio.

A expansão monetária usada a partir da crise financeira internacional de 2007-2008 para recolocar a economia americana numa trajetória de crescimento sustentado não encontra precedentes na história. No entanto, diante dos sinais cada vez mais consistentes de recuperação da atividade econômica daquele País, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) vem diminuindo parte dos estímulos até então adotados, como a injeção mensal de dólares na economia para reduzir as taxas de juros de longo prazo e dos financiamentos imobiliários. A expectativa agora gira em torno do momento em que os juros de curto prazo (fed funds, equivalente a taxa SELIC no Brasil) subirão.

Convém lembrar que a relação entre moeda e juros é inversa. Intuitivamente, a elevação da primeira faz com que os agentes econômicos tenham mais recursos disponíveis para fazer a alocação em títulos da dívida. O aumento da demanda por esses papéis provoca um encarecimento dos seus preços (lei da oferta e da demanda). Portanto, um título mais caro é aquele que rende menos.

Os juros de longo prazo, medidos pelos títulos da dívida americana com vencimento em 10 anos, foram negociados no mercado em patamares historicamente baixos no pós-crise, refletindo exatamente a percepção dos agentes econômicos sobre o intuito do FED em dar suporte a recuperação da economia americana via política monetária expansionista.

O gráfico abaixo traça duas séries históricas: o retorno dos títulos da dívida do governo dos EUA com maturidade de 10 anos e a taxa de câmbio (em Reais por Dólares). Vale destacar que o incremento significativo dos juros, em maio de 2013, ocorreu muito antes do início da retirada, de fato, das estímulos (que só começou em dezembro daquele ano), exatamente quando o FED anunciou que estava estudando a possibilidade de diminuir o Quantitative Easing (ver texto). O mercado acabou precificando, com bastante antecedência, esse efeito.

Retorno dos Títulos da dívida do governo dos EUA de 10 anos e Taxa de Câmbio
(Em % a.a. e R$/US$)


Com o aumento dos juros, a economia americana se torna mais atrativa pare receber investimentos em relação a outros lugares do mundo. Os capitais, portanto, tendem a sair de outros países (incluindo o Brasil) e migrar para os EUA. A ampliação da procura por dólares (e diminuição da demanda por reais) gerou uma taxa de câmbio desvalorizada. Logo, naquela oportunidade, há uma evidência de que os fundamentos externos impactaram a cotação. A aderência entre as variáveis permaneceu relativamente boa até agosto do ano passado.

Todavia, a partir de setembro de 2014, a taxa de câmbio apresentou uma tendência de forte desvalorização e volatilidade, se descolando do movimento das taxas de juros dos EUA. Setembro e outubro passados foram marcados pelo acirramento da disputa na Presidência da República: pesquisas que apontavam o fortalecimento da então candidata Dilma Rousseff geravam desvalorização do câmbio, e vice-versa. Nos meses seguintes, questões como as indefinições em torno da equipe econômica, perspectivas de baixo crescimento e os escândalos de corrupção na Petrobrás causaram o enfraquecimento do Real perante o Dólar. Nesse segundo momento, consequentemente, as questões de ordem interna têm pesado mais sobre a taxa de câmbio.

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