sábado, 9 de maio de 2015

Vendas do comércio brasileiro em franco declínio

Mesmo diante da crise financeira internacional de 2008 e da desaceleração mais intensa da economia brasileira a partir de 2011, as vendas do comércio mostravam resiliência. A partir do segundo semestre de 2013, no entanto, nota-se uma clara trajetória de desaceleração do crescimento dessa variável. Nesse sentido, o objetivo desse post é tentar entender alguns dos principais drivers que afetam o setor, traçando um panorama que ajude a dar um direcionamento sobre o seu comportamento futuro.

Entre outros elementos, três são especialmente importantes para o segmento em questão, a saber:

(a) Renda

Quanto maior a renda disponível da população, maior tende a ser a elevação das vendas do comércio, e vice-versa.

(b) Inflação

Se o nível geral de preços da economia sofre persistentes altas, o poder de compra dos salários cai, gerando redução da quantidade demandada de bens. As duas variáveis, portanto, são negativamente relacionadas.

O gráfico abaixo mostra a variação percentual acumulada em 12 meses entre o índice de volume (apenas as quantidades transacionadas, sem levar em consideração os preços) das vendas do comércio ampliado (varejo, veículos, motocicletas, partes, peças e material de construção) e a massa de salários real. Essa última foi calculada a partir da multiplicação da população ocupada, divulgada pelo IBGE, pelo rendimento médio real do trabalho principal, também publicada pela mesma fonte. Esse indicador está livre dos efeitos da inflação, permitindo assim uma comparação adequada entre as variáveis de interesse. Contempla-se, dessa forma, os dois quesitos supracitados de uma vez só.

Volume de Vendas do Comércio Ampliado (eixo da esquerda) e Massa Salarial Real (eixo da direita)
(Variação % acumulada em 12 meses)

O que se percebe é uma forte correlação positiva entre ambas. Chama a atenção que o valor mais alto dessa medida ocorreu quando a massa salarial real foi atrasada em 4 meses em relação às vendas do comércio.

(c) Crédito

O crédito disponível para o consumo tende a ser um elemento favorável para as vendas do comércio. No entanto, conforme o gráfico abaixo, percebe-se que houve uma desaceleração mais intensa no saldo do crédito para pessoas físicas voltado para a aquisição de bens justamente a partir do segundo semestre de 2013. A série também foi deflacionada (pelo IPCA).

Saldo de crédito real para as pessoas físicas voltado para a aquisição de bens total
(Variação % acumulada em 12 meses - deflacionada pelo IPCA)

O simples fato de irrigar a economia com mais recursos para financiamentos também esbarra em outro elemento importante: o endividamento das famílias brasileiras. Um comprometimento elevado da renda das mesmas com os encargos da dívida pode não gerar mais consumo.

Em função da perspectiva de aumento do desemprego até o final do ano, a massa salarial real deverá continuar caindo. Além disso, parte do atual ajuste da economia brasileira também diz respeito às condições de liberação de crédito mais restritas por parte dos bancos. Dessa forma, há indícios de que o pior momento para o setor ainda está por vir.

Fontes: População ocupada e massa salarial real (PME/IBGE). (Séries 2057 e 2181 do SIDRA)
Vendas do comércio ampliado (PMC/IBGE). (Série 3417 do SIDRA)
Saldo de crédito para pessoas físicas voltado para a aquisição de bens total (Banco Central). (Série 20583 do SGS).

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