sexta-feira, 19 de junho de 2015

O que esperar dos movimentos dos juros nos EUA e como isso afeta o Brasil?

Vários analistas e investidores têm acompanhado com atenção a economia americana nos últimos meses. Mais especificamente, o foco tem sido a expectativa em torno dos próximos passos da política monetária do País, mais especificamente sobre a elevação da taxa de juros. Conforme será visto mais adiante, esse direcionamento é importante não só para os Estados Unidos, mas também repercute sobre as outras nações, incluindo o Brasil.

Cabe lembrar que o Federal Reserve (FED) apresenta um mandato dual, ou seja, são dois grandes objetivos que devem ser perseguidos: inflação de 2% a.a. e o máximo nível de emprego possível. Os últimos comunicados do FOMC (Comitê responsável pela política monetária) enfatizam que um conjunto amplo de indicadores será levado em consideração para fundamentar e balizar não só o timing do primeiro aumento, mas também toda a trajetória futura dos juros.

Entretanto, a análise de alguns indicadores da economia americana vis à vis os alvos da autoridade monetária pode ajudar a elucidar um pouco essa problemática:
  • A taxa de desemprego, atualmente em 5,5% (dado de maio), ainda está acima da taxa natural estimada pelo FED (entre 5,0% e 5,2%). Ou seja, a proporção de desocupados pode cair, a partir da manutenção dos estímulos, sem que isso gere desequilíbrios do ponto de vista da inflação.
  • A inflação continua abaixo da meta de 2,0% (houve estabilidade de preços nos últimos 12 meses terminados em maio). Esse comportamento, em parte, se deve ao menor preço da energia. Mesmo com a interrupção da queda dos preços das commodities, o impulso do ponto de vista monetário deverá continuar, pelo menos no curto prazo.
A cada reunião do FOMC, realizada com espaçamentos de 45 dias, algumas projeções para importantes variáveis econômicas dos EUA são revistas. O gráfico abaixo mostra qual a taxa de juros desejável para cada um dos dezessete membros do Comitê (que tem poder de voto em relação em relação aos juros) para esse e os próximos anos. Quinze deles acreditam que, até o final de 2015, os juros estarão mais altos. Esse movimento deverá persistir nos períodos seguintes, alcançando, no longo prazo, valores entre 3 e 4% a.a.. Todavia, em comparação com os últimos levantamentos, espera-se que essa trajetória será mais suave, refletindo a menor expectativa de crescimento para a economia americana nos próximos anos (algo corroborado pelas projeções do FMI).

Taxa de juros desejável para cada um dos membros do FOMC nos EUA
(Em % a.a. no fim de cada período)
Outra possibilidade de avaliar essa questão está nas apostas dos investidores do mercado financeiro. Com base nos preços dos contratos dos juros futuros, o CME Group Research calcula a probabilidade implícita de mudanças na política monetária. Para a próxima reunião, em julho, há 56% de chances da taxa subir para 0,25 p.p.. Já para a reunião que será realizada no dia 16 de dezembro, a probabilidade de uma majoração de pelo menos 0,25 p.p. é de 89%.

Probabilidade de aumento dos juros nos EUA
(Em % com base nos contratos futuros de juros)

E de que forma isso tende a afetar o Brasil? Um dos principais canais de transmissão se dá através da taxa de câmbio, ou seja, do preço do Real medido em dólares. Quanto mais elevado os juros americanos, maior é o incentivo para que capitais de todo o mundo se desloquem para os Estados Unidos, desvalorizando assim as outras moedas. Entre outros efeitos, a depreciação do câmbio tende a favorecer as exportações e diminuir as importações, além de ser prejudicial para a inflação (uma vez que os desembarques se tornam mais caros).

Por outro lado, destaca-se que a elevação dos juros nos EUA representa um marco importante, pois sinaliza a maior economia do planeta (16,1% do PIB mundial, conforme os dados do FMI referentes ao ano de 2014) está conseguindo apresentar sólidos fundamentos sem a necessidade de um incentivo tão forte advindo da política monetária (cabe lembrar que, desde dezembro de 2008, em função da crise financeira, as fed funds – equivalentes a nossa taxa SELIC – estão em patamares muito próximos a zero). Tal fato é importante para o comércio exterior brasileiro, uma vez que o País é bastante relevante na nossa pauta exportadora (segundo lugar no ranking de 2014, com 10,2% do total, somente atrás da China). Dito de outra forma, há maior espaço para um aumento da demanda externa.

Fontes: Juros desejáveis pelos membros do FOMC (Link aqui)
Probabilidade de aumento dos juros nos EUA com base nos contratos futuros (Link aqui)

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