segunda-feira, 20 de julho de 2015

As causas da crise na Grécia

Para compreender a origem da crise na Grécia, é necessário voltar no tempo, quando a Zona do Euro foi criada. Devido ao peso econômico do bloco, os investidores apostaram que a nova moeda manter-se-ia forte em relação às demais, sobretudo em função da credibilidade exercida pela Alemanha e pela Holanda. Em função disso, atraídos por um prêmio de risco elevado, acabaram comprando títulos da dívida grega. O aumento da demanda por esses papeis barateou o custo de novos endividamentos. Aliado ao ápice do período conhecido por “Grande Moderação” houve um forte boom de crédito, dos gastos governamentais e dos salários no País.


Vale destacar que a oferta interna da Grécia não é capaz de prover adequadamente os bens e serviços que a Grécia necessita. Sua estrutura econômica é notadamente pouco diversificada. Para se ter uma ideia, somente o setor de turismo representa 17,9% do produto total. Destarte, o crescimento verificado até 2008 só foi possível através da poupança externa. Conforme o gráfico abaixo, o déficit em transações correntes como proporção do PIB passou de 7,4% em 2000 para 14,5% em 2008.

Resultado das Transações Correntes da Grécia
(Em % do PIB) 
No entanto, o cenário mudou a partir de 2008, com a eclosão da crise financeira internacional. O aumento da aversão ao risco causou uma elevação da incerteza e repercutiu intensamente sobre a Grécia. Os investidores passaram a exigir uma taxa de juros muito maior para conceder novos empréstimos. Tal fato, somado à rigidez dos gastos contratados nos anos anteriores, gerou déficits fiscais elevados. A dívida como proporção do PIB passou de 108,7% para 177,1% do PIB em 2014.


Usualmente, economias que estão com o Balanço de Pagamentos desajustado promovem uma desvalorização da taxa de câmbio. Isso tende a incentivar as exportações e desestimular as importações, ajudando no processo de reequilíbrio das contas externas. Todavia, a Grécia não pode realizar uma política cambial independente, uma vez que a moeda na Zona do Euro é única. Nesse caso, só resta a alternativa de realizar uma “desvalorização interna”, ou seja, reduzir preços e salários de modo a tornar as exportações mais competitivas. Todavia, essa questão é especialmente delicada, pois o seu setor exportador é muito pouco diversificado e competitivo. Esse processo impôs um custo bastante elevado do ponto de vista do nível de atividade para o País: o PIB já caiu em ¼ desde 2008. Por outro lado, as contas externas tiveram um ajustamento considerável, de acordo com os dados apresentados.


A falta de dinheiro para arcar com todos os compromissos gerou a necessidade de resgates para tentar tirar a Grécia do buraco. Até o ano passado, o partido que estava no governo não exercia oposição em relação às medidas de austeridade impostas pelos credores internacionais para a concessão de empréstimos. O então governo acreditava que esse caminho viabilizaria uma retomada do crescimento sustentado. 


No entanto, uma nova recessão no último trimestre de 2014 potencializou a candidatura de Alexis Tsipras do Syriza (partido de extrema-esquerda), eleito com uma plataforma completamente distinta em comparação com o governo anterior anterior. As rusgas envolvendo os credores e o atual comando da Grécia sobre o grau de profundidade das reformas necessárias ao País consolidaram o atual quadro.


O gráfico abaixo mostra a correlação existente entre o PIB acumulado em 4 trimestres e o Índice de Sentimento Econômico ao longo dos últimos anos. Há uma forte correlação positiva entre ambas, ou seja, um melhor desempenho do nível de atividade está ligado, na média, a uma melhor percepção dos respondentes sobre o ambiente econômico.

Índice de Sentimento Econômico e PIB da Grécia
(Número-índice: 1ºT/2002 = 100 e variação % acumulada e 4 trimestres)  


Fonte: PIB trimestral (OCDE)
Resultado em Transações Correntes (FMI
Índice de Sentimento Econômico (Eurostat)

Nenhum comentário:

Postar um comentário