quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Comércio exterior: mais um retrato do atraso brasileiro



Os dados mais recentes da Organização Mundial do Comércio e do Banco Mundial atestam uma realidade bastante preocupante para a economia do Brasil: nosso comércio exterior como proporção do PIB é o terceiro menor do mundo entre 184 nações. A soma das exportações e importações em relação ao total de bens e serviços alcançou apenas 19,7% em 2014, superior apenas ao Sudão (18,4%) e à África Central (19,3%). A magnitude do atraso fica ainda mais evidente quando se compara a estatística brasileira com a média mundial: 49,1%.


Por um lado, esse fechamento torna o país menos suscetível a choques externos, uma vez que o mercado interno apresenta grande relevância. No entanto, abre-se mão de diversos benefícios: a exportação significa a possibilidade de ampliação de mercados e de maior crescimento; a importação, em certos casos, viabiliza a produção e o consumo de bens e serviços a custos mais baixos em comparação com os nacionais.


A falta de uma cultura exportadora é um dos motivos que explica o nosso subdesenvolvimento. O gráfico abaixo mostra o PIB per capita (em dólares) e o total de empresas exportadoras (por milhão de habitantes) para 43 países onde há dados disponíveis. Optou-se por utilizar uma média entre os anos de 2006 e 2010, de modo a minimizar um possível viés pela seleção de um período mais curto. O Brasil está destacado no ponto laranja. Há uma clara correlação positiva entre ambas: nações mais ricas tendem, em média, a ter um maior número de firmas que vendem mercadorias para o exterior.

PIB per capita e número de empresas exportadoras - média entre 2006 e 2010
(Em US$ e unidades por milhão de habitantes)


É possível perceber que o Brasil está descolado da linha que melhor se ajusta aos pontos. Sabe-se que os desvios em relação à média, para vários fenômenos, tendem a ser corrigidos ao longo do tempo. Nesse caso, há duas opções: aumentar o número de empresas exportadoras (preservando assim o PIB per capita em dólares) ou tornar-se mais pobre. O atual processo de desvalorização cambial, aliado à retração esperada do PIB para esse ano e 2016, indicam que esse ajustamento ocorrerá de maneira muito mais intensa através da segunda via.

Uma das possibilidades de destravar a agenda relativa ao comércio exterior envolve a negociação de acordos bilaterais. No entanto, praticamente não houve avanços ao longo dos últimos 20 anos. Diante das atuais turbulências no Brasil, principalmente do ponto de vista político, a tendência é de permanecer com esse importante canal de desenvolvimento obstruído.

Fonte: PIB per capita (Banco Mundial).
Número de empresas exportadoras (Banco Mundial).
Exportações e e importações mundiais (OMC).

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Indicadores defasados: número de falências



Além de gerar menos empregos, uma economia em crise também causa outros efeitos sobre a esfera produtiva. Caso os custos de uma determinada empresa superem de maneira persistente as receitas, é natural que suas atividades sejam encerradas para minimizar os prejuízos. Essa ação é perfeitamente condizente com a racionalidade econômica dos agentes.


O gráfico abaixo mostra a variação percentual acumulada em 12 meses do PIB (aqui representado pela sua proxy mensal, o IBC-BR) e o número de falências decretadas, conforme o levantamento da Serasa Experian (esse eixo está com os valores invertidos). Há uma clara correlação negativa quando a segunda variável é atrasada em seis meses, ou seja, trata-se de um indicador defasado. Isso significa que um menor dinamismo da atividade econômica tende a ser acompanhado, com retardo, pelo aumento das falências, em média.

Número de falências decretadas e PIB (IBC-BR)
(Var. % acumulada em 12 meses)

Uma das justificativas que pode explicar esse fenômeno diz respeito à existência de contratos. A rigidez imposta pelos mesmos impede com que a prestação de serviços seja abruptamente interrompida, mantendo as operações da firma com os seus clientes e fornecedores por um certo período, mesmo em épocas de turbulência. Quando ocorre o vencimento desses acordos, os empresários do estabelecimento podem, enfim, optar por declarar a falência. Outra razão que pode ser apontada é a lacuna temporal existente entre a requisição e o decreto dessa situação, em função dos procedimentos burocráticos necessários pela justiça. 


Ao longo dos próximos meses, deveremos observar uma aceleração do número de falências, acompanhando a deterioração da perspectiva de crescimento da economia brasileira em 2015. De acordo com as projeções mais recentes do Relatório FOCUS do Banco Central, o PIB nesse ano deverá apresentar um recuo de 1,8% em comparação com 2014. Se mais empresas fecham, pior é cenário para a geração de emprego e riqueza.

Fontes: Número de falências decretadas (Serasa Experian)
IBC-BR - Banco Central (Série 17439 do SGS)