quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Quais os motivos da diminuição dos depósitos na poupança e os seus efeitos sobre a economia?



O noticiário econômico tem dado grande ênfase à movimentação das cadernetas de poupança do Brasil. Ao longo dos últimos meses, as retiradas superaram – e muito – os novos depósitos, gerando diferenças de magnitude recorde entre ambas. Os dados do Banco Central mostram que a captação líquida em 2015 foi negativa em R$ 53,6 bilhões. O segundo resultado mais baixo (lembrando que esses valores foram corrigidos pelo IPCA) ocorreu em 1999: - R$ 24,8 bilhões, ou seja, menos da metade.

Captação Líquida da Poupança 
(Valores deflacionados pelo IPCA acumulado até dez/15)
À luz das estatísticas, o objetivo do presente artigo é explicar a dinâmica da poupança em 2015, além das implicações que esse objeto de análise exerce sobre o restante da economia.

A poupança ainda é um instrumento muito utilizado pela população brasileira para guardar eventuais sobras de receitas em relação às despesas, ainda que outros instrumentos financeiros tenham ganhado força ao longo dos últimos anos. Nesse sentido, há pelo menos duas razões que justificam o número mais baixo da série histórica das captações líquidas em 2015.

1) Fraqueza do nível de atividade

A atual crise econômica gerou aumento da taxa de desemprego, com repercussões negativas sobre os salários. Destarte, os recursos são utilizados para complementar a renda da família e evitar uma perda ainda maior de bem-estar.

2) Conjugação entre alta taxa de juros e elevada inflação


A remuneração da poupança é fixa em 0,5% ao mês, mais a Taxa Referencial (TR), nos casos em que a SELIC é maior que 8,5% a.a.. Ano passado, enquanto a caderneta rendeu 8,75%, a inflação, medida pelo IPCA, alcançou 10,7%. Ou seja, houve perda para os depositantes em termos reais, dado que o poder de compra da aplicação tornou-se menor. Diante desse cenário, os investidores têm migrado, em quantidade cada vez maior, para outras modalidades que se beneficiam da elevada taxa de juros (atualmente em 14,25% a.a.) e do aumento do nível geral de preços. As mais comuns envolvem os títulos da dívida do governo e as LCI’s/LCA’s.


É necessário ressaltar que o movimento da poupança em 2015 apresenta importantes desdobramentos sobre a economia. Em primeiro lugar, existe uma imposição legal que obriga os bancos comerciais a utilizar 65% do total dos depósitos para o crédito imobiliário. Na medida em que esse montante diminui, a taxa de juros dos financiamentos tende a ser maior pelo lado da demanda. Por conseguinte, há menos incentivo para que novos ofertantes ingressem no mercado, limitando o crescimento dos novos empreendimentos e o desenvolvimento de um dos subsetores mais importantes da Construção Civil.

Outra parte dos depósitos da poupança é utilizada para o crédito rural. As linhas de financiamento com esse fim servem para cobrir despesas inerentes ao ciclo de produção e de comercialização, bem como para a aquisição de capital. A escassez também é preocupante, uma vez que o setor primário é o que apresenta o maior dinamismo no Brasil.

Em suma, a diminuição da captação líquida da poupança tende a retroalimentar ainda mais a crise, repercutindo sobre a Construção Civil e o Agronegócio.

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