segunda-feira, 14 de março de 2016

Transformações do mercado de trabalho brasileiro: um simples exercício

A crise econômica tem gerado transformações significativas no mercado de trabalho brasileiro. Em artigo publicado em julho de 2015, constatou-se que a geração de emprego é fortemente correlacionada com o nível de atividade. Já a taxa de desemprego, por sua vez, apresentou comportamento peculiar ao longo dos últimos anos: entre 2011 e 2014, nem mesmo a significativa desaceleração na criação de postos de trabalho foi suficiente para impedir sua queda. No entanto, a partir de 2015, a destruição de vagas se acentuou, repercutindo negativamente sobre a taxa de desocupação.

O objetivo do presente artigo é entender de que forma o mercado de trabalho reage diante de situações de estresse como a que estamos vivendo hoje.

Convém lembrar que a taxa de participação pode ser definida como a razão entre a População Economicamente Ativa (PEA, ou seja, a soma dos empregados e desempregados) e a População em Idade Ativa - cidadãos com 10 anos ou mais, ou seja, que estão aptos para exercer atividades laborais -. A análise da série histórica, com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, merece duas observações: (1) a taxa de participação alcançou o menor nível para os meses de janeiro e (2) ao longo da maior parte do tempo, a variável manteve-se estável ao redor de 57,0%.

Somente em dois períodos os valores da taxa de participação destoam dessa referência: 2002 e 2015. Em relação ao primeiro, vale lembrar que a economia apresentou forte deterioração, em função dos temores com relação à possibilidade da eleição de Lula. em 2015, a economia entra em depressão com forte inflação. Diante desse quadro, aliado também às mudanças nas regras para a obtenção do Seguro Desemprego e à falta de perspectiva de uma retomada, houve forte ajustamento no mercado de trabalho.

O exercício proposto envolve recalcular a taxa de desemprego (definida como a população desocupada em relação à PEA), considerando a situação hipotética de manutenção da taxa de participação em 57,0% ao longo de toda a série histórica. Essa, portanto, seria a taxa de participação de “equilíbrio”, capaz de expressar condições "normais" relativas à participação da população no mercado de trabalho. A diferença entre o número de pessoas representado pelo valor efetivo da PEA e o simulado é utilizada para corrigir o pessoal desempregado. 

Quando a PEA é maior do que o benchmark, ou seja, quando a diferença entre ambas é positiva, caracteriza-se uma situação em que as condições do mercado de trabalho mostraram-se realmente favoráveis, de tal sorte que havia incentivos para o aumento da oferta de mão de obra. Nesse caso, a taxa de desemprego simulada é mais baixa que a efetiva. Se, por outro lado, a diferença entre ambas é negativa, os trabalhadores deixaram de ofertar trabalho, numa sinalização de piora das condições econômicas. Portanto, se fizessem parte da PEA, estariam desempregados, o que elevaria ainda mais a taxa de desemprego. Os resultados estão dispostos no gráfico abaixo:

Taxa de desemprego efetiva e simulada do Brasil (PEA fixa em 57,0%)
(Em % no mês)

Em suma, o movimento de abandono do mercado de trabalho evitou que a taxa de desemprego crescesse ainda mais.  Por exemplo: se a taxa de participação fosse de 57,0% (e não de 54,8% em janeiro passado), o desemprego seria de 11,1%. Essa diferença equivale a, praticamente, um milhão de desempregados a mais.

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