sexta-feira, 13 de maio de 2016

O que esperar do governo Temer no campo econômico?



O plenário do Senado Federal deu prosseguimento ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, o que resultou em seu afastamento por até 180 dias. Não restam dúvidas de que esse é um caminho irreversível, até porque a oposição já conseguiu a maioria qualificada (dois terços do total de 81 votos) para aprovar seu impedimento de forma definitiva no julgamento vindouro.


Ao longo de sua primeira fala como Presidente da República, Michel Temer deu grande ênfase para a situação da economia brasileira. Mas, diante de toda a complexidade do atual cenário, o que é possível esperar ao longo dos próximos dois anos e meio de governo? O objetivo dessa carta é mostrar que os desafios impostos à nova gestão são monumentais, a despeito de alguns fatores positivos e do excesso de otimismo de alguns analistas.


Por um lado, é inegável a existência de grande ociosidade da capacidade produtiva, tanto em termos de mão de obra, quanto em relação ao grau de utilização do maquinário instalado das empresas. Após 2 anos consecutivos de queda no PIB, o efeito estatístico favorece o crescimento, uma vez que a base de comparação se encontra bastante deprimida. Além disso, o novo governo conta com a possibilidade de uma rápida reversão das expectativas dos agentes, caso os primeiros acenos sejam promissores.


Entretanto, o governo Temer vai ter de lidar com dificuldades monumentais. Talvez a principal seja no campo fiscal, dado que o rombo esperado nas contas públicas (conceito primário) é de aproximadamente R$ 100 bilhões. O blog “Economics For Real” já demonstrou que a maior parte dos gastos do governo é obrigatória, ou seja, apresenta elevado grau de rigidez. Ademais, muitos veículos de comunicação divulgaram recentemente estimativas dos chamados “esqueletos”, ou seja, dos prejuízos gerados pela má administração econômica do PT que não foram contabilizados porque ainda estão em processo de consolidação. Entre os exemplos estão as capitalizações necessárias para a Petrobrás, Caixa Econômica e Eletrobrás, a renegociação da dívida estaduais, além da possível inadimplência do FIES e dos problemas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). As projeções mais conservadoras mostram que essa conta é de R$ 250 bilhões.


Temer também sinalizou com duas reformas essenciais do ponto de vista econômico: a reforma trabalhista e da Previdência. Ambas são vitais para o Brasil: a primeira para elevar a produtividade, enquanto a segunda ajudará a garantir a sustentabilidade das contas públicas a médio e a longo prazo, evitando que a trajetória da dívida governamental continue ascendente. Todavia, é necessária a formação de uma ampla maioria para aprovar essas medidas. Muito pouco se avançou sobre esses temas ao longo de 20 anos e, mesmo governos que contaram com grande popularidade, não se engajaram nessa plataforma.


Outro fator que pode impactar negativamente o governo de Michel Temer diz respeito aos desdobramentos da Operação Lava-Jato no âmbito político. O aprofundamento das investigações pelos órgãos competentes pode ser devastador para o novo governo, gerando instabilidades que podem arruinar a governabilidade e impedir avanços.

Em suma, apesar de contar com elementos positivos que favorecem uma retomada conjuntural, os desarranjos econômicos são graves e podem piorar substancialmente caso não sejam adotadas medidas em curto espaço de tempo. As próximas semanas serão cruciais, pois indicarão o ritmo que o governo quer ditar. A política, portanto, seguirá dominando a economia.

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