domingo, 27 de novembro de 2016

Objetivos contraditórios: estimular a economia ou conter a inflação?

O Conselho Monetário Nacional, formado pelo presidente formado pelo ministro da Fazenda, ministro do Planejamento e o Presidente do Banco Central do Brasil, determinou recentemente o aumento dos limites para o financiamento de imóveis via FGTS.

Essa política tem efeitos expansionistas diretos sobre dois importantes setores - imobiliário e construção civil -, além de outros impactos indiretos sobre a cadeia. Analisando somente o lado real da economia, a medida faz sentido, ainda mais no atual contexto de forte recessão pelo qual atravessamos.

No entanto, é importante lembrar que um dos principais objetivos do Banco Central, dentro do sistema de Metas para a Inflação, é assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda. Ao elevar o teto para os financiamentos imobiliários através do FGTS, a demanda tende a aumentar, o que gera pressões sobre o nível geral de preços. Eventuais ajustamentos promovidos pelo ajuste da oferta são lentos, algo especialmente válido para os dois segmentos em questão.

A falta de coordenação entre as políticas foi um problema recorrente ao longo dos últimos anos, sobretudo na Administração Rousseff. Não serviu para gerar crescimento nem contribuiu para segurar a inflação. 

Os objetivos de política econômica, portanto, precisam ser consistentes.

http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/11/governo-aumenta-limite-para-financiamento-de-imoveis-pelo-fgts

Mais milionários em tempos de crise?

A manchete parece contraditória em uma primeira análise, mas não é. E você sabe qual é um dos principais fatores responsáveis por isso? A inflação alta.

Diferentes grupos e agentes têm a possibilidade de se proteger contra o aumento persistente do nível geral de preços. Vamos analisar cada caso.

1) Bancos: os recursos depositados em conta corrente não rendem juros, enquanto os juros dos empréstimos, que geram as receitas, são reajustados. Quanto maior a diferença, maior o ganho. Nos anos em que o Brasil experimentou a hiperinflação, as instituições financeiras foram extremamente beneficiadas;

2) Governo: pode, em última análise, imprimir mais moeda para dar conta de suas necessidades. Outra possibilidade envolve a tomada de recursos emprestados, criando ônus para as futuras gerações dos pagadores de impostos;

3) Ricos: conseguem se resguardar através da aplicação de suas economias em investimentos que garantem a reposição da inflação, mais um juro extra.

Entretanto, a população pobre, por definição, não consegue gerar poupança, ou seja, é a parcela que mais sofre com a perda do poder de compra da moeda.

A melhor forma de promover a queda da desigualdade de renda é através do CONTROLE DA INFLAÇÃO.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-crise-brasil-ve-numero-de-milionarios-aumentar,10000089814

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

As críticas de Donald Trump à economia dos Estados Unidos fazem sentido?

Hoje o Por quê? - Economês em bom português publicou o seguinte post em sua página:
"1. O desemprego nos Estados Unidos está abaixo de 5%;
2. A inflação, perto de zero;
3. O valor dos investimentos na bolsa americana subiu mais de 150% desde a crise financeira global, iniciada em 2008.

Esse parece ser um ambiente propício para duras críticas à economia? Faz sentido Trump buscar votos com o discurso da decadência econômica americana?"
Vejam a nossa resposta:
1) O atual patamar do desemprego é condizente com as estimativas do FED para a "taxa natural", mas a taxa de participação da população na força de trabalho, hoje em 62,8%, é a mais baixa desde 1977. Esse é um indicador de disfunção do mercado de trabalho, até porque, mesmo com o desemprego baixo, os salários pouco têm crescido acima da inflação.
2) Inflação perto de zero não é saudável para a economia, pois significa um fardo grande para os detentores de dívidas e tende a postergar as decisões de consumo das famílias. Os bancos centrais dos países desenvolvidos são unânimes ao perseguir uma inflação baixa (mas não próxima a zero) e estável.
3) A valorização tão expressiva da bolsa desde 2008 está atrelada à expansão sem precedentes do balanço do FED. Como não houve enxugamento dessa liquidez, os ativos permanecem supervalorizados. Do ponto de vista da economia real, os fundamentos não justificam, nem de perto, a magnitude desse fenômeno.
Aliás, esse é outro debate importante: quanto mais o FED reluta em promover esse enxugamento da liquidez, mais ele tende a gerar distorções na economia e, consequentemente, agravar as próximas crises.
Este texto serve de complemento ao terceiro ponto.