quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Série "O que esperar para 2017": PIB


A mediana das projeções para o PIB do último Relatório FOCUS, do Banco Central, aponta que a economia brasileira crescerá 0,5% em relação a 2016. Esse valor, no entanto, recompõe apenas uma parcela muito pequena das perdas incorridas ao longo dos últimos dois anos, de 7,2% (considerando a estimativa de retração de 3,5% em 2016). Alguns importantes vetores devem favorecer a retomada conjuntural, porém ainda lenta, do nível de atividade. Outros, todavia, continuam bastante estrangulados, conforme as justificativas abaixo.

Vetores favoráveis:

1º) Inflação mais baixa: evita a deterioração mais significativa do poder de compra dos salários, com impactos positivos sobre a demanda agregada.

2º) Queda da taxa SELIC: proporciona melhora da situação das empresas, principalmente aquelas cujo nível de endividamento é mais alto. A situação financeira das indústrias consultadas pela Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é crítica: 42,3 pontos no último trimestre de 2016, sendo que valores abaixo de 50 indicam insatisfação. Ademais, a redução da taxa básica de juros diminui o custo para os financiamentos destinados ao consumo e aos investimentos, além de trazer alívio para as contas públicas: cada ponto percentual de redução da SELIC provoca uma economia de, em média, R$ 28 bilhões ao erário.

3º) Preços das commodities mais altos: o preço do barril de petróleo já apresentou elevação ao longo das últimas semanas, em função do anúncio da OPEP, realizado no final do ano passado, que determinou a redução do total ofertado pelo conjunto de países que formam o cartel. A diminuição dos riscos relacionados à desaceleração mais intensa da China em 2017, com resultados do Índice de Gerentes de Compras (PMI) melhores do que esperado, também ajuda no suporte aos preços. Vale lembrar que os produtos básicos representam uma importante fatia da pauta de exportação brasileira, de aproximadamente 50%.

4º) Estoques ajustados: o nível dos estoques efetivos em relação ao planejado da indústria brasileira, de acordo com a Sondagem Industrial da CNI, está em 48,6 pontos, ou seja, abaixo dos 50 pontos, indicando menos estoques frente ao projetado pelas firmas. Esse é um dos valores mais baixos da série histórica, iniciada em 2010. Nessas situações, qualquer impulso oriundo da demanda deverá repercutir positivamente sobre a produção.

Vetores desfavoráveis:

1º) Efeito carregamento desfavorável: o efeito estatístico para 2017 é bastante desfavorável, uma vez que a trajetória recente do PIB ainda apresenta forte deterioração. Nesse exercício, estimamos qual seria a variação do PIB em 2017 se a taxa de crescimento ao longo dos 4 trimestres fosse zero (nos dados com ajuste sazonal). Portanto, se houver estabilidade no nível da série ao longo desse período, a variação em relação a 2016 será de -0,7%. Para que o Brasil cresça 0,5% em 2017, o crescimento médio a cada trimestre (em relação ao período imediatamente anterior) deverá ser de 0,5%.

2º) Margem nula para estimular a economia através da política fiscal: o desequilíbrio das contas públicas deverá permanecer em 2017. A meta com relação ao déficit no conceito primário, anunciado pelo governo, é de R$ 139 bilhões. Se incluirmos as empresas estatais e estados e municípios, o rombo esperado é ainda maior: R$ 143,1 bilhões. Por um lado, o governo não deverá ampliar as desonerações fiscais e reduzir outros impostos. Por outro, a vigência da PEC do Teto impede que o tamanho dos gastos primários federais supere o IPCA acumulado ao longo de 2016, de 6,28%.

3º) Mercado de trabalho deteriorado: as demissões no mercado de trabalho formal deverão continuar em 2017, ainda que em ritmo bem menos intenso em comparação com 2015 e 2016. Além da destruição de postos de trabalho gerar impactos negativos sobre a taxa de desemprego, a própria situação econômica desfavorável aumenta a pressão dos que compõem a População Não Economicamente Ativa (PNEA) em fazer parte da força de trabalho (PEA). Contudo, como a retomada ainda deverá ser lenta, esse grupo deverá aumentar ainda mais o contingente dos que são considerados desempregados. Também é importante frisar a existência de uma defasagem entre o PIB e os movimentos do mercado de trabalho, em decorrência dos elevados custos de contratação e demissão de funcionários, além daqueles envolvidos com o treinamento da mão de obra recém contratada.

4º) Demanda externa sem perspectivas positivas: o ritmo de crescimento das importações mundiais deverá continuar lento em 2017. As mudanças no cenário dos acordos comerciais causados pela dissolução do Acordo do Transpacífico (TPP) e da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) podem abrir espaço para o aumento das exportações de setores onde há vantagem competitiva no Brasil, sobretudo os relacionados à agroindústria. No entanto, ainda que isso ocorra, o efeito resultante sobre o PIB não será significativo. Além disso, a possibilidade de um acordo de livre comércio entre MERCOSUL e União Europeia sofreu um duro golpe com o Brexit, de tal modo que a continuidade dos trâmites entre ambos os blocos deverá sofrer atraso considerável.

Em suma, a retomada da economia brasileira será muito lenta e gradual.

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