terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Série "perspectivas para 2017": taxa de câmbio

AVISO IMPORTANTE: qualquer análise honesta sobre a taxa de câmbio envolve a discussão dos fatores que podem determinar a tendência futura da cotação. Quem centra esforços na defesa intransigente de suas projeções para essa variável só têm um único objetivo: enganar seu interlocutor.

Após essa ressalva, vamos aos fatores que, no nosso entendimento, são relevantes para a trajetória do objeto de nossa análise.

DESVALORIZAÇÃO:

A evolução do cenário inflacionário abriu espaço para que o ciclo de redução da taxa de juros por parte do COPOM seja mais intenso do que o previsto anteriormente. Tudo mais constante, o Brasil se torna relativamente menos atrativo ao capital financeiro internacional. Como resultado, a queda da demanda por Reais causa uma depreciação da taxa de câmbio.

Entretanto, não podemos ver essa questão de maneira isolada. Aqui, a variável-chave é o diferencial esperado entre os juros nacionais e dos demais países. Devemos, portanto, permanecer vigilantes no que tange aos desdobramentos da política monetária das principais nações do mundo. No caso dos Estados Unidos, o mercado e os membros do FOMC com poder de decisão sobre as fed funds já esperam três (ao invés de dois) aumentos de juros ao longo de 2017, em função da expectativa com relação ao plano de estímulo de Donald Trump para alavancar o nível de atividade. O Dólar, portanto, se fortaleceria não somente pelo lado monetário/financeiro, mas também pela atração de recursos produtivos que visam se beneficiar do ambiente mais propício para a obtenção de lucros. Por conseguinte, o incremento da demanda agregada pressionaria a inflação.

No front interno, o Dólar pode se desvalorizar muito caso a política contamine ainda mais a economia. A “Operação Lava-Jato” e a ação movida junto ao TSE para cassar a chapa Dilma-Temer pelo recebimento de caixa-dois na campanha presidencial de 2014 são fontes de grande incerteza que podem pressionar a cotação. A deterioração do lado fiscal também pode contribuir para a desvalorização, diante da aprovação de pautas que pressionam os gastos públicos.

VALORIZAÇÃO:

Caso as medidas de Donald Trump não surtam o efeito previsto, o FED deverá manter os juros baixos por mais tempo, visando dar suporte ao crescimento. Sob essa última hipótese, o diferencial de juros, tudo mais constante, seguiria ainda bastante alto entre o Brasil e o resto do mundo.

É importante lembrar que na maior parte dos países desenvolvidos a política monetária é inversa ao dos EUA. A Zona do Euro, em breve, deverá anunciar medidas de expansão da liquidez. Por sua vez, o Japão, muito provavelmente, seguirá ampliando sua base monetária. Diante de taxas de juros (de curto e de longo prazo) cada vez mais baixas, os poupadores acabam buscando opções mais rentáveis de investimento em outros locais, como o Brasil.

O crescimento mais forte da China e o aumento da demanda por commodities favorecem a moeda brasileira. Em situações como essa, onde a cotação dessas mercadorias é pressionada, a receita em dólares para cada unidade exportada é maior. Em função de sua relevância na pauta exportadora brasileira, o aumento da oferta de Dólares acaba diminuindo a cotação.

A taxa de câmbio também pode apresentar uma valorização mais expressiva se o governo consiga aprovar uma reforma da Previdência satisfatória, além de avançar na agenda microeconômica para reduzir os custos de produção das empresas.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

Ao longo de 2016, o Banco Central interveio no mercado de câmbio quando a taxa de câmbio testava limites inferiores a R$ 3,15 e superiores a R$ 3,45. No primeiro caso, a autoridade monetária parece não desejar que o ajuste da economia brasileira através do setor externo seja prejudicado: quanto mais valorizada a cotação, maior o incentivo para as importações e o desincentivo para as exportações. No segundo, o BC preocupa-se com o efeito da desvalorização da taxa de câmbio sobre os índices de inflação (efeito pass-through).

CONCLUSÃO:

A complexidade do cenário econômico no âmbito nacional e internacional permite apenas a realização do exercício acima para especular o futuro da taxa de câmbio.

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