AVISO IMPORTANTE: qualquer análise honesta sobre a taxa de câmbio
envolve a discussão dos fatores que podem determinar a tendência futura
da cotação. Quem centra esforços na defesa intransigente de suas
projeções para essa variável só têm um único objetivo: enganar seu
interlocutor.
Após essa ressalva, vamos aos fatores que, no nosso entendimento, são relevantes para a trajetória do objeto de nossa análise.
DESVALORIZAÇÃO:
A evolução do cenário inflacionário abriu espaço para que o ciclo de
redução da taxa de juros por parte do COPOM seja mais intenso do que o
previsto anteriormente. Tudo mais constante, o Brasil se torna
relativamente menos atrativo ao capital financeiro internacional. Como
resultado, a queda da demanda por Reais causa uma depreciação da taxa de
câmbio.
Entretanto, não podemos ver essa questão de maneira
isolada. Aqui, a variável-chave é o diferencial esperado entre os juros
nacionais e dos demais países. Devemos, portanto, permanecer vigilantes
no que tange aos desdobramentos da política monetária das principais
nações do mundo. No caso dos Estados Unidos, o mercado e os membros do
FOMC com poder de decisão sobre as fed funds já esperam três (ao invés
de dois) aumentos de juros ao longo de 2017, em função da expectativa
com relação ao plano de estímulo de Donald Trump para alavancar o nível
de atividade. O Dólar, portanto, se fortaleceria não somente pelo lado
monetário/financeiro, mas também pela atração de recursos produtivos que
visam se beneficiar do ambiente mais propício para a obtenção de
lucros. Por conseguinte, o incremento da demanda agregada pressionaria a
inflação.
No front interno, o Dólar pode se desvalorizar muito
caso a política contamine ainda mais a economia. A “Operação Lava-Jato” e
a ação movida junto ao TSE para cassar a chapa Dilma-Temer pelo
recebimento de caixa-dois na campanha presidencial de 2014 são fontes de
grande incerteza que podem pressionar a cotação. A deterioração do lado
fiscal também pode contribuir para a desvalorização, diante da
aprovação de pautas que pressionam os gastos públicos.
VALORIZAÇÃO:
Caso as medidas de Donald Trump não surtam o efeito previsto, o FED
deverá manter os juros baixos por mais tempo, visando dar suporte ao
crescimento. Sob essa última hipótese, o diferencial de juros, tudo mais
constante, seguiria ainda bastante alto entre o Brasil e o resto do
mundo.
É importante lembrar que na maior parte dos países
desenvolvidos a política monetária é inversa ao dos EUA. A Zona do Euro,
em breve, deverá anunciar medidas de expansão da liquidez. Por sua vez,
o Japão, muito provavelmente, seguirá ampliando sua base monetária.
Diante de taxas de juros (de curto e de longo prazo) cada vez mais
baixas, os poupadores acabam buscando opções mais rentáveis de
investimento em outros locais, como o Brasil.
O crescimento mais
forte da China e o aumento da demanda por commodities favorecem a moeda
brasileira. Em situações como essa, onde a cotação dessas mercadorias é
pressionada, a receita em dólares para cada unidade exportada é maior.
Em função de sua relevância na pauta exportadora brasileira, o aumento
da oferta de Dólares acaba diminuindo a cotação.
A taxa de câmbio
também pode apresentar uma valorização mais expressiva se o governo
consiga aprovar uma reforma da Previdência satisfatória, além de avançar
na agenda microeconômica para reduzir os custos de produção das
empresas.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Ao longo de 2016, o Banco
Central interveio no mercado de câmbio quando a taxa de câmbio testava
limites inferiores a R$ 3,15 e superiores a R$ 3,45. No primeiro caso, a
autoridade monetária parece não desejar que o ajuste da economia
brasileira através do setor externo seja prejudicado: quanto mais
valorizada a cotação, maior o incentivo para as importações e o
desincentivo para as exportações. No segundo, o BC preocupa-se com o
efeito da desvalorização da taxa de câmbio sobre os índices de inflação
(efeito pass-through).
CONCLUSÃO:
A complexidade do
cenário econômico no âmbito nacional e internacional permite apenas a
realização do exercício acima para especular o futuro da taxa de câmbio.
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